Thursday, December 21, 2006

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Um homem vagueava pela rua
Orgulhoso por ser quem era
Senhor do seu nariz e do seu mundo
Dono de um dos corações mais generosos
Que até então haviam palpitado
A gravata bem aprumada
O fato perfeitamente engomado
O cabelo bem aparado
Tal como a barba já grisalha
Tinha sempre pronto um sorriso sincero
Que fazia acompanhar com uma palavra correcta
A quem fosse que lhe solicitasse a atenção
Morava numa casa enorme
Que dividia com a sua bela esposa
E os seus quatro filhos
Possuía dois automóveis topo de gama
Ambos perfeitamente adaptados a seu gosto
Mas que preferia deixar em casa
Nos dias em que ia passear no parque da cidade
Dir-se-ia que era um homem feliz por certo
Mas então por que motivo noite após noite
Deixava escapar lágrima após lágrima
Contendo os soluços rebeldes
Enquanto sua mulher e filhos dormiam?
Tinha um sonho por realizar
Sonhava com o dia e o momento
Em que alguém lhe solicitaria a atenção

E ele retribuiria com um sorriso sincero
Que faria acompanhar de uma palavra correcta
Sonhava com o dia em que ao passear no parque da cidade
A sua cadeira de rodas não faria de si o homem invisível.